2.9.06

...e agora...
queres um biscoito?


Tecla 3...
KABOOM!

Tecla 5...
KAABBOOOMM!!

Tecla 0...
...
...
..
.


sequência em espiral, Tecla 9.

[Conjugo agora]
6 + 7 + 3...

673...
bem dados.
673 pares de estalos distribuídos “naquele” bar.
Quais seguranças quais quê... quais gajas boas quais quê...

...

Foi tudo a eito...
...

Tudo ólhare... par’cia que nunca tinham visto um gajo bêbado...

...
Maravilha...


Mentira... tudo mentira... conti-me...
dos 673 passei para 0, das teclas “kaboom” escrevi mensagens a todos os meus “amigos” e dos biscoitos fiz limonada que bebi sozinho ao pequeno-almoço | faço-me passar por um rapaz bonito com camisolas coloridas e falsas esperanças para uma vida próspera, mas afinal sofro pela simpatia que me esqueço de oferecer...
ainda hoje podia ter dado um bom dia a toda a gente (ficava-te bem)... ao invés dos “tiques” que agora adquiris-te... morder o vento que te bate na tromba... esticar a bochecha pó lado e trincar os dentes, rodar a cabeça feito “tolinho” quando passa um autocarro...
Mas afinal o que somos nós... o que são aqueles espasmos aguçados de querer olhar... o que é a puta que pariu da merda do talento?...
...vhuu... calma...
...1...2...3... ... ... ... 10!

(afinal ainda estás no meio da rua...hey que figurinha... sempre a falar sozinho e a mandar vir com as pingas dos “ares condicionados”)

Sigo o meu caminho até à linha de comboio onde espero pelo próximo alpha... (como eu adoro aquele pequeno furacão a passar).

...BUUUUZZZ BUUUUZZZZ...

mmm, já lhe ouço o rastro... ahh...
Sem dar por ela, passa a alta velocidade o dito TAMPAX gigante, meio vermelho meio branco, cheio de folhas atrás...

Ehehe... pareciam fãs...
Loucas para abraçar um dos seus ídolos...
Nisto uma delas abre a boca como que para bocejar e:

- Não queres que transforme o teu planeta num iceberg gigante, pois não?! - desafia-me a pequena folha de carvalho.

Ainda a ouvir a vozinha peneirenta a extinguir-se juntamente com o som do TGV bebé, meto a mão ó bolço...

-Olha que puta!... fodasse!
Saco do bloquinho de notas e PIMBA, desperdiço uma folha naquela ameaça descolada de tudo o que conheço...

Guardo o bloco no sapato e perco-me em pensamentos de gajas nuas. Mais tarde quando tudo parecia tão calmo, sai-me da boca um sibilar de sílabas que me deixam bastante conclusivo...
ICEBERG MATIAS... fodasse, foi isto que eu disse?... porquê agora? Estava tão calmo a ver o colapso do Império Romano.

Que história é esta agora dos icebergs?
Porra o que é um iceberg?

A enciclopédia diz-me que... o iceberg é um enorme bloco que se solta das gélidas falésias existentes nos oceanos polares. São de água doce. Os icebergs não devem ser confundidos com água do mar congelada no inverno, que raramente resiste ao verão. Um iceberg pode ter uma extensão de quilómetros subaquáticos, mostrando apenas uma pequena porção que bóia à superfície da àgua.
...
fecho a enciclopédia esmagando um gafanhoto que se alimentava das letras já corroídas pelo tempo. "aaaaaaaaahhhhh" é o último som que ouço do pobre bicho.

Que raio.
Vou beber gin... pode ser que os cigarros se acendam sozinhos de hoje em diante.

...

Copos atrás de copos sem sequer saborear o champô de gengibre, 1,2,3,4,5...
Tabaco que parece não acabar... o cinzeiro já vai cheio de “baronas” queimadas... socializam num tom arrogante umas com as outras...
Atento... lá lhe apanho o fio à miada, e intrigo-me nas histórias das beatas. Discutiam os seus tamanhos e feitios.

- Tás toda torta... foste mal apagada... hey, ainda deitas fumo pelas orelhas... pareces uma tesoura...

... até que reparam em mim, e jubilizam um ar de indignadas...
daqui até começarem com segredinhos não levou muito tempo...
aproximei-me para ouvir melhor... e mais uma vez pararam todas...
...
Num coro de catarro crónico, ouvi:

- Quê?!... “Espécas-te” a olhar para nós... “espécas-te” depois daquilo que criáste!! O que é que queres ouvir?
Queres ouvir que te escondes como um iceberg?...
...

FODASSE...
levantei-me...
e mandei tudo com o caralho...
TUDO!

Até eu fui co’caralho!


Fui mesmo co’caralho!...
Já não existo naquela sala... já não existo naquela casa...
O que eu digo começa-se a perder em vapor de água...
As palavras que quero conjugar não aceitam o destino que lhes reservo... Aos poucos...
Poucos e poucos...
Poucas e poucas...
Pingas de gelo... começam a cair no estômago amargo...
Azedo!

Pingas de gelo... não... não são pingas de gelo... são letras.
Derretem mesmo à frente dos meus olhos... que já não são olhos...
Esses já derreteram à 5 minutos.
Sinto-me a descair para um líquido quente. Muito quente!
Já não ouço a voz do planeta... já não ouço a minha própria voz...

Quero pensar que ainda existo... mas nem isso consigo...
O circuito nervoso que me estimula o pensamento já se fundiu com o da próstata.
... é o fim da tua legacia.

Não consegui evitar este pior... mas sei que estagnei. Apenas me sinto a flutuar num oceano perdido por milhas e milhas.

Um oceano de vontades e lixo tóxico.
Um oceano de memórias e embarcações ilegais.
Um oceano pelo qual milhares de icebergs navegam perdidos de si mesmos.








Na fronteira dos cem graus existo eu.
O Iceberg Matias.
Pronto a derreter a qualquer hesitação sem resposta...

Pronto a contribuir, mais uma vez, para o afogar do planeta de cartão.